quarta-feira, 8 de abril de 2015

E isso bastou!

O cenário, mais uma vez, estava armado. O altar, transformado em palco, estava adornado com as mais variadas decorações. Um verdadeiro show de luzes refletia nas paredes de todo templo, misturando-se à fumaça de gelo seco que invadia o ar. Vídeos com efeitos modernos estavam sendo projetados, enquanto a multidão escolhia o melhor lugar, que poderia ser aquele perto do ar condicionado, ou talvez algum mais próximo das potentes caixas de som... Quem sabe? Todos assentos eram estofados mesmo, altamente confortáveis. Não havia grandes diferenças.

A banda já estava a postos, armada dos mais modernos instrumentos e equipamentos de som. Tão logo a multidão tomou seus assentos e lotou o templo, o som explodiu naquele lugar... E sumiu.

Se no princípio da criação do mundo Deus disse “Haja luz”, bom, naquela noite sua ordem decretou o contrário. O culto havia começado, mas houve uma queda de energia. De repente, não havia mais luzes no palco – aliás, se alguém entrasse ali e não conhecesse o lugar, nem saberia que havia um palco lá. Não havia mais fumaça de gelo seco, ou projeções em datashow, ou sistema de som moderno, ou ar condicionado. Nem a banda conseguia tocar! E como o pastor ia falar sem um microfone?

O burburinho surgiu no meio da multidão. “O que faremos?” “Será que acabou o culto?” “Será que vai demorar pra luz voltar?“Como vamos fazer o culto sem luz? Acho que vou pra casa” “Nossa, que calor, quero o ar condicionado de volta”, e assim por diante. Alguns já iam levantando-se e indo em direção à saída, quando uma voz lá da frente gritou pedindo por silêncio, e disse:

-  Pessoal, ouve uma queda de luz na região, e não temos previsão de volta. Realmente, estamos sem a maioria dos nossos recursos funcionando, mas convido a todos os que quiserem para que permaneçam aqui – mesmo sem som, sem ar condicionado, sem banda acompanhando o louvor. Não viemos a este lugar na busca de conforto físico; bom, pelo menos não deveria ser esta nossa motivação. Viemos buscar a presença do Pai, e Ele está em todos lugares – até naqueles onde não temos conforto algum. Viemos buscar a comunhão com outros irmãos e bem, você pode não estar vendo muito bem aqueles que estão a sua volta, mas eles estão aí. Viemos buscar a Palavra, e temos ela em nossas mãos, ainda que não possamos a ler neste exato momento. Viemos orar e interceder pelos nossos irmãos, e fazemos isso de olhos fechados: que falta faz a luz?

Então o dono da voz, pastor da comunidade, pegou um violão e do modo mais simples e acústico possível, cantou com a comunidade. O resultado foi de arrepiar: a multidão fez sua voz soar e preencher aquele lugar. E louvou como nunca havia feito; não havia banda para “embelezar” as canções, não havia solos instrumentais sem fim, não havia uma voz sobressaindo à outra. Havia naquele lugar uma só voz: a voz do povo de Deus, adorando-O de coração, em Espírito e em Verdade. E isso bastou.

E o pastor pregou sem utilizar efeitos visuais. Tudo que havia era o som de suas palavras e o povo absolutamente quieto, prestando atenção em cada palavra. No meio da escuridão, ninguém tinha coragem nem de pegar seus celulares e conferir as últimas mensagens recebidas. Ora, se Moisés pregou para o povo de Israel inteiro sem microfones e caixas de som, porque eles também não poderiam? E isso bastou.

E o povo orou. Os olhos nem precisaram ser fechados... E cada um orou da sua maneira, em um momento de real intimidade com o Pai. E isso bastou.

Por fim, as pessoas se despediram umas das outras e se abençoaram entre si. Não se via o rosto alheio; não se via que roupas a pessoa usava, como estava seu cabelo, que jóias estava ostentando. A única coisa que existia eram abraços, apertos de mão, palavras de carinho e sinceridade. E isso bastou.

Naquela noite, não houve luz dentro da igreja, mas nunca antes ela estivera tão iluminada pela Luz. E isso mais do que bastou!

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